Aventura, misticismo e natureza a 2.810 m de altitude
Introdução
O Parque Nacional do Monte Roraima é um dos destinos mais espetaculares e enigmáticos da América do Sul. Localizado na tríplice fronteira entre Brasil, Venezuela e Guiana, essa majestosa montanha em formato de mesa — conhecida como tepui — se eleva a impressionantes 2.810 metros acima do nível do mar. Sua área protegida no lado brasileiro oferece um itinerário icônico para quem busca aventura, contemplação e uma conexão profunda com a natureza. Este artigo explica por que esse tesouro geológico deve estar no topo da sua lista de viagens.
1. O que é o Parque Nacional do Monte Roraima
Localizado em Uiramutã, o município mais ao norte de Roraima, o parque foi criado por decreto federal em 28 de junho de 1989, abrangendo cerca de 116.748 hectares. Situado dentro da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, sua missão é proteger ecossistemas únicos, apoiar pesquisas científicas e oferecer oportunidades de ecoturismo responsável.
O parque abriga uma grande variedade de ambientes: savanas, florestas de altitude, planaltos, vales, rios e cachoeiras. A altitude varia de 920 m a cerca de 2.780 m, com os característicos paredões e escarpas dramáticas dos tepuis. Além do próprio Monte Roraima, o complexo montanhoso de Pacaraima inclui outros picos notáveis, como a Serra do Sol.
2. Lendas e misticismo do Monte Roraima
Na mitologia dos povos Macuxi e Pemon, o Monte Roraima é a “Casa dos Deuses.” As histórias contam que a montanha surgiu quando o céu tocou a terra, dissolvendo a fronteira entre o humano e o sagrado. Essa dimensão espiritual impressiona os visitantes, evocando a sensação de estar diante do inacessível.
Geologicamente, o tepui é formado por rochas do período Pré-Cambriano — com mais de 2 bilhões de anos — tornando-o um verdadeiro fóssil vivo das eras mais antigas da Terra. As formações rochosas dramáticas, penhascos verticais de até mil metros e as estruturas cúbicas do tepui criam paisagens que parecem de outro planeta — perfeitas para quem busca experiências inigualáveis. O livro “O Mundo Perdido”, de Sir Arthur Conan Doyle, foi inspirado em expedições a essa região.

3. Como chegar ao parque
Pelo Brasil
A jornada começa em Boa Vista, capital de Roraima. De lá, os viajantes seguem pela BR‑174 até Pacaraima, uma pequena cidade na fronteira com a Venezuela. Em Pacaraima, é necessário contratar agências e guias autorizados. A rota segue em veículos 4×4 por estradas de terra até a vila de São Francisco (Uiramutã), ponto de partida da trilha.
Pela Venezuela ou Guiana
Também é possível acessar o parque pela Venezuela (através de Santa Elena de Uairén e Gran Sabana) ou pela Guiana, criando opções de trekking internacional. No entanto, a maioria dos turistas opta pela rota brasileira por ser mais prática em termos logísticos.
Guias e autorizações
O trekking é permitido apenas em trilhas autorizadas. A presença de guias indígenas certificados — geralmente das etnias Pemon ou Macuxi — é obrigatória. As autorizações e taxas cobradas pelo ICMBio e por agências locais ajudam a financiar a conservação da área e geram renda para as comunidades indígenas.
4. Trilhas e principais atrações
Trilha até o cume
A trilha padrão leva de 6 a 8 dias, com acampamentos noturnos na base e no platô da montanha. Os caminhantes atravessam savanas, florestas e rampas naturais de rocha, acampando a cada noite com vistas panorâmicas de tirar o fôlego.

Vale dos Cristais
No platô, esse vale é repleto de cristais de quartzo translúcidos, formados ao longo de milênios pela ação do vento e da chuva — uma maravilha natural de tirar o fôlego.
Marco da Tríplice Fronteira
No cume da montanha está o marco da tríplice fronteira (Brasil–Venezuela–Guiana). Dali, os visitantes podem estar, simbolicamente, em três países ao mesmo tempo — uma poderosa união entre geografia e significado cultural.
Jacuzzis Naturais
Piscinas esculpidas nas rochas, preenchidas com água cristalina, oferecem banhos revigorantes com vistas vertiginosas para os penhascos ao redor.
Lagoa Gladys & Pedra Maverick
O platô abriga pequenos lagos, como a Lagoa Gladys, além da imponente Pedra Maverick, que marca o ponto mais alto do monte, com cerca de 2.810 m de altitude.

5. Flora e fauna
Espécies únicas e endêmicas
O parque abriga plantas carnívoras como Heliamphora e Drosera, bromélias como a Brocchinia, orquídeas de altitude como a Ecyclia, além de musgos, fungos e outras espécies surpreendentes da flora de regiões elevadas.
O platô também é o único habitat conhecido do sapinho Oreophrynella quelchii, uma pequena criatura que mede entre 2 e 3 cm e é classificada como vulnerável pela IUCN. Além disso, aves raras como o formigueiro-de-roraima (Roraiman antbird) e o papa-formigas-de-roraima (antwren) habitam essas altitudes.
Diversidade da vida selvagem
Nas altitudes mais baixas, a fauna amazônica é mais diversa, com presença de mamíferos, tartarugas e aves — estima-se que cerca de 114 espécies já tenham sido registradas na bacia do Rio Cotingo.present, including mammals, turtles, and birds—an estimated 114 species have been recorded in the Cotingo River basin.

6. Turismo responsável e regras do parque
- Siga as normas do ICMBio: acampe apenas em áreas designadas, leve todo o lixo de volta, utilize fogareiros em vez de fazer fogueiras e não colete plantas ou rochas.
- A contratação de guias certificados é obrigatória e essencial tanto para a logística quanto para a segurança da expedição.
- O trekking ajuda a sustentar comunidades indígenas (Pemon, Macuxi, Ingarikó) por meio da contratação de guias locais, carregadores e da compra de artesanato.
- A gestão do parque funciona em um sistema de cooperação entre o ICMBio e a FUNAI; desde 2005, essa governança conjunta tem solucionado questões territoriais sobrepostas.
7. O que levar para a expedição
- Equipamentos: barraca, saco de dormir, isolante térmico, lanterna de cabeça, fogareiro portátil
- Roupas: camadas térmicas, corta-vento, capa de chuva, botas resistentes
- Cuidados com a saúde: repelente de insetos, protetor solar, kit básico de primeiros socorros, pastilhas purificadoras de água
- Hidratação: garrafas de água e filtros
- Preparo físico: condicionamento cardiovascular e adaptação ao clima frio
- Extras: bastões de caminhada, óculos de sol, chapéu e luvas

8. Roteiro sugerido
- Dia 1: Chegada em Boa Vista e deslocamento até São Francisco (Uiramutã)
- Dia 2: Caminhada até o Rio Tek (primeiro acampamento)
- Dia 3: Trilha até o acampamento-base, aos pés das paredes do monte
- Dias 4–5: Subida até o platô e exploração do terreno
- Dias 6–7: Excursões pelo platô, passando pelo Vale dos Cristais, Lagoa Gladys, Jacuzzis Naturais, Pedra Maverick e o marco da tríplice fronteira
- Dia 8: Descida do platô até o acampamento-base
- Dia 9: Caminhada de retorno até o Rio Tek
- Dia 10: Retorno para Pacaraima e Boa Vista
Esse plano de 8 a 10 dias permite uma boa aclimatação à altitude e proporciona uma experiência completa das paisagens e ecossistemas da região — apesar dos desafios físicos e das variações climáticas.

9. Curiosidades inspiradoras
O tepui é considerado um dos maiores platôs do mundo, cobrindo uma área estimada entre 33 e 50 km².
A média anual de chuvas pode chegar a impressionantes 4.000 mm, o que contribui para a formação de micro-cavernas e riachos subterrâneos.
A primeira ascensão documentada ao Monte Roraima ocorreu em 1884, realizada por uma expedição britânica liderada por Everard F. im Thurn — inspirando gerações de exploradores e escritores.
Cerca de 3.500 pessoas visitam o parque anualmente, em sua maioria sul-americanos, sendo aproximadamente 38% de origem europeia.
Uma jornada além do tempo
O Parque Nacional do Monte Roraima é mais do que um destino turístico — é um portal para outra era, onde ciência, mito e aventura se encontram em formações rochosas milenares. A força bruta da montanha, sua biodiversidade única e o misticismo ancestral criam jornadas capazes de transformar o espírito.
Se você busca uma experiência que vá além dos guias e mapas — que revele a poesia da Terra em sua forma mais pura — prepare-se para a subida. Monte Roraima wai.





